FORÇA DA PUREZA




Godofredo de Bouillon


O Padre Ratisbonne, fundador da Congregação de Nossa Senhora do Sion, comenta que todo cristão tem, em sua vida, três instantes de graça maior, três píncaros decisivos. O primeiro é o momento do batismo, quando o homem nasce para a vida da graça, e se torna membro da Santa Igreja de Deus. O último é o momento supremo da perseverança final, quando a alma se separa do corpo e nasce para a Vida Eterna. Entre esses dois extremos, há, no entanto um outro momento, que é a hora da vocação. É quando o homem conhece a missão para a qual Deus o criou, e aceita, e abraça essa missão como sendo a razão de sua existência. Essa correspondência a vocação é o elo que une o batismo a perseverança final, elo importantíssimo e quase indispensável, sem o qual a salvação corre sério perigo, elo que resume a vida de um homem, e sem cuja análise, nenhuma biografia pode ser digna desse nome.

Antes de conhecida, a vocação é como uma luz, difusa, um farol oculto pela neblina, que o navegante procura ansioso, mas, sem desespero, porque sabe que o encontrará; depois da descoberta, a vocação é a bússola, é a estrela, é a rota que o cristão segue com alegria e confiança. E então, quando surgem os momentos de angustia e as agruras do combate, o católico encontrará o ânimo no considerar a própria vocação: "foi para isso que eu nasci nisso Deus me quer, e nisso encontrarei a Deus".

Godofredo de Bouillon, Duque da Lorena, nasceu para ser cruzado. E realizou sua vocação naquela Sexta- Feira, do ano de 1099, quando, com a espada em punho, e a frente do exército católico, atravessou as muralhas da Cidade Santa de Jerusalém, expulsando os muçulmanos e retomando para Deus o que a Deus pertencia. Vencida a batalha, Godofredo depôs suas armas, e, de pés descalços, em sinal de humildade correu para o tesouro que veio buscar: o Santo Sepulcro de Nosso Senhor; não eram as  riquezas que o atraíam.  Mais tarde, quando seus soldados o quiseram coroar rei, exclamou: "não posso aceitar ser coroado de ouro, no mesmo lugar onde Nosso Senhor foi coroado de espinhos!"

E ficou em Jerusalém o resto da vida, como defensor do Santo Sepulcro. Sua força era lendária. Os soldados afirmavam que ele era capaz de cortar completamente o pescoço de um camelo, com um só golpe de espada. Conta-se que alguns árabes duvidaram disso, e apostaram, com os católicos, que Godofredo não seria capaz de tal proeza. Ajustados os termos da aposta, foram procurar o cruzado, levando um camelo que os árabes haviam comprado para o teste. Godofredo levantou-se, tomou de sua espada e, de um só golpe, fez cair à cabeça do animal. Atônitos, os árabes protestaram, afirmando que aquilo era impossível, a menos que a espada fosse mágica. Desafiou Godofredo a repetir o feito, usando dessa vez uma espada árabe.

Novo camelo é trazido e, em poucos instantes, sua cabeça decepada vai juntar-se a do anterior.

Os soldados católicos, ironicamente, perguntaram se os árabes desejavam financiar mais um camelo para novo teste, talvez agora com uma espada grega...

Os árabes, vendo os custos crescerem, desistiram e pagaram a aposta. Depois, ainda atônitos, perguntam a Godofredo: "Qual é a mágica que lhe deu tanta força?" E o cruzado, estendendo serenamente suas mãos, assim falou: "Tenho tanta força porque estas mãos nunca pecaram contra a pureza".

Sublime resposta! Magnífica lição para tantos jovens e velhos de hoje que cultuam irracionalmente a força bruta, mas desprezam a pureza! "Rambos" e "Rockys" de alma imunda, assemelhando-se mais a bichos do que a Filhos de Deus...

Godofredo de Bouillon, o Cruzado, faleceu em Jerusalém, aos pés do santo Sepulcro que jurou, até a morte, defender.

Sua vocação estava cumprida. Agora se lhe abriam as portas do Céu.

(O Desbravador - Setembro de 2007)

PS: Grifos meus.

Fonte: http://a-grande-guerra.blogspot.com.br/2011/04/godofredo-de-bouillon-ou-forca-da.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário