Salve Maria! Sede da Sabedoria!
O dom dos milagres: como são e de que forma se dar essa intervenção de Deus na natureza visível. Primeiramente, importa distinguir a natureza visível da natureza invisível. De como a concepção desses dois conceitos tem relevância para aderir à beleza dos milagres. Uso-me desse expediente sob o amparo do autor C. S. Lewis e do discernimento de São Gregório Magno na atribuição dos dons carismáticos. Submisso a ortodoxia da Santa Madre Igreja e disposto a ceder adiante a qualquer juízo particular que soe desarrazoado.
Natureza e Supra-Natureza. Natureza são todas as coisas perceptiveis aos cinco sentidos: as rochas, o mar, o vento e o sol; as criaturas palpáveis. Que são apreendidas pela inteligência humana através do mundo material. A humanidade é a única criatura contida de natureza material, e que, intelectiva as coisas que são criadas.
Antes de prosseguir, detenhamo-nos a uma primeira espécie de "milagre": a criação. Este é um milagre relegado ao mero acaso da natureza, pela má ciência, elaboram-se conceitos enormes sobre os efeitos daquilo criado; mas titubeiam quando se defrontam com a causa primeira da natureza material. Por isso cito-o neste parágrafo, para que se enraize a idéia do Criador. Do milagre de tirar do nada o imenso universo, num tecido de perfeita ordem e sabedoria.
A Supra-Natureza é o mundo invísivel, que é mais fascinante, pois nos dar a posse da imortalidade. A fé é uma das lunetas para apreender as criaturas desse mundo: são elas os nove coros dos anjos (criaturas mais inteligentes que os homens, mas sem o corpo material), o céu a morada aos homens e mulheres que alvejaram suas vestes no sangue do cordeiro, assim como, o purgatório para os tíbios, e o inferno para os que se fizeram inimigos de Deus e das criaturas tiradas do amor ao Verbo Encarnado.
Certo, a fé é um dom perfeito para posse do mundo invísivel, temos também outro dom perfeito, a razão. Clareadora da Revelação Divina, tateia-se no mundo dos sentidos por duas "provas": a verdade e a moral. Temos impresso n'alma o sentido do que é certo ou errado, ou seja, a repulsa pelo que agride a razão, a satisfação em encontrar a verdade das coisas. De igual modo sentimos tristeza ou alegria na prática da justiça e da caridade nas nossas ações. Conclui-se que temos uma alma (que não a vemos mas sabemos), temos a expectativa de um juízo, e a segurança de possuir a verdade como prêmio eterno por tê-la encontrado.
Os milagres são por definição interferências do mundo Supra-Natural na Natureza material. São por excelência grandes excessões. Senão viveríamos num mundo absurdo (pois ainda não se manifestou àquilo para que fomos criados). Os milagres que envolvem a alteração do curso natural são os mais chamativos, por exemplo: a transformação da água em vinho, o andar sobre as águas, a cura inexplicável de uma doença irreversível, a multiplicação dos pães, o santo sudário, o manto de guadalupe, e dentre tantos outros, são eles chamativos mas apenas a porta de entrada.
Por quê? É em Jesus Cristo que o Milagre encontra todo sentido de ser. 1. Deus se reveste da humana criatura. 2. A encarnação no seio de uma Virgem Mulher. 3. O nascimento incólume a virgindade de sua Mãe. 4. A sujeição à morte, e morte infame na cruz. 5. A ressureição dos mortos. 6. A nova criação num corpo não suscepítivel a corrupção. 7. A ascensão ao céu em corpo e alma. 8. A nova humanidade inaugurada pelo mistério pascoal.
Chegamos ao clímax da utilidade dos milagres: o ser humano desembaraçado da perecibilidade. É um dom de Deus, uma extensão do amor criador, a adoção da humanidade em filhos e filhas, pelos méritos da vinda de Nosso Senhor Jesus. Espera-se com grande expectativa a sua segunda vinda, então à alma e o corpo não mais contrariarão um ao outro, exceto aos filhos da perdição em espetáculo à justiça divina no fogo inextinguível.
Nestes termos é que se dar o dom dos milagres. Não é uma mágica: é Deus ratificando que as leis estão sob seu crivo. Não é ilusionismo protestante: só os santos convencem a Deus. Não é obscurantismo: o Pai pode sim tirar do infinito algo a vir à luz.
Em tempos de crise da fé, necessário é nos resguardar do erro. O mundo jaz cada dia mais desértico, alguns santos previram um tempo de esfriamento dos dons, com inclusive o cessamento dos milagres. Para a nossa diretriz coloco a exortação de São Gregório Magno, sob como usar os dons num mundo paganizado:
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“Eis os sinais que acompanharão aqueles que terão acreditado: em meu nome, eles expulsarão os demônios, eles falarão em línguas novas, eles pegarão em serpentes, e se tiverem bebido algum veneno mortal, ele não lhes fará nenhum mal. Eles imporão suas mãos aos doentes e estes serão curados” (São Marcos, XVI,16).
Será que, meus caros irmãos, pelo fato de que vós não fazeis nenhum destes milagres, é sinal de que vós não tendes nenhuma fé?
Estes sinais foram necessários no começo da Igreja. Para que a Fé crescesse, era preciso nutri-la com milagres. Também nós, quando nós plantamos árvores, nós as regamos até que as vemos bem implantadas na terra. Uma vez que elas se enraizaram, cessamos de regá-las.
Eis porque São Paulo dizia: ”O dom das línguas é um milagre não para os fiéis, mas para os infiéis” (I Cor, XIV,22).
Sobre esses sinais e esses poderes, temos nós que fazer observações mais precisas?
A Santa Igreja, faz todo dia, espiritualmente, o que ela realizava então nos corpos, por meio dos Apóstolos. Porque, quando os seus padres, pela graça do exorcismo, impõem as mãos sobre os que crêem, e proibem aos espíritos malignos de habitar sua alma, faz outra coisa que expulsar os demônios?
Todos esses fiéis que abandonam o linguajar mundano de sua vida passada, cantam os santos mistérios, proclamam com todas as suas forças os louvores e o poder de seu Criador, fazem eles outra coisa que falar em línguas novas?
Aqueles que, por sua exortação ao bem, extraem do coração dos outros a maldade, agarram serpentes.
Os que ouvem maus conselhos sem, de modo algum, se deixar arrastar por eles a agir mal, bebem uma bebida mortal, sem que ela lhes faça mal algum.
Aqueles que todas a vezes que vêem seu próximo enfraquecer, para fazer o bem, e o ajudam com tudo o que podem, fortificam, pelo exemplo de suas ações, aqueles cuja vida vacila, que fazem eles senão impor suas mãos aos doentes, a fim de que recobrem a saúde?
Estes milagres são tanto maiores pelo fato de serem espirituais, são tanto maiores porque repõem de pé, não os corpos, mas as almas.
Também vós, irmãos caríssimos, realizais, com a ajuda de Deus, tais milagres, vós os realizais, se quiserdes.
Pelos milagres exteriores não se pode obter a vida. Esses milagres corporais, por vezes, manifestam a santidade. Eles não criam a santidade.
Os milagres espirituais agem na alma. Eles não manifestam uma vida virtuosa. Eles fazem vida virtuosa.
Também os maus podem realizar aqueles milagres materiais. Mas os milagres espirituais só os bons podem fazê-los.
É por isso que a Verdade diz, de certas pessoas:
“Muitos me dirão, naquele dia: “Senhor, Senhor, não foi em teu nome que nós profetizamos, que nós expulsamos os demônios e que realizamos muitos prodígios? E Eu lhes direi: ”Eu não vos conheço. Afastai-vos de Mim, vós que fazeis o mal” (São mateus VII, 22-23).
Não desejeis, ó irmãos caríssimos, fazer os milagres que podem ser comuns também aos réprobos, mas desejai esses milagres da caridade e do amor fraterno dos quais acabamos de falar: eles são tanto mais seguros pelo fato de que são escondidos, e porque acharão, junto a Deus, uma recompensa tanto mais bela quanto eles dão menor glória diante dos homens”
(São Gregório Magno, Papa, Sermões sobre o Evangelho, Livro II, Les éditions du Cerf, Paris, 2008, volume II, pp. 205 a 209)."
Recomendem-me em vossas orações, a Virgem Santíssima faça de vós aptos para a nova criação.
Fabricio Bastos, J.M.J.